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Mostrando postagens com o rótulo nacional

Claro Enigma, Carlos Drummond de Andrade | Resenha

Dedicado ao jornalista e poeta Américo Facó e intitulado com um oxímoro, o compilado de poemas de Carlos Drummond de Andrade nos coloca em uma posição de sentimentalismo profundo sob reflexões da condição humana. Escrito e publicado em um período de grandes movimentos político-ideológicos no Brasil e no mundo, nessa coletânea, os poemas de Drummond se apresentam carregados por cansaço, desilusão e angústia, pela realidade humana e por estruturas textuais tão pessoais que proporcionam uma acentuação da proximidade entre o leitor e o eu-lírico. Há alguns anos li partes do Sentimento do Mundo (1941) e esse ano pretendo ler Confissões de Minas (1944). De Claro Enigma (1951), o poema que mais gostei foi “perguntas”, sem dúvidas, o texto que achei mais profundo e que me levou a reflexões transformadoras. Recomendo bastante a leitura, ainda mais como eu fiz, lendo poucos poemas por dia para deixar espaços de tempo entre um e outro, além de ler concomitante a outros livros. O autor, que nasce

Borboletas da alma: escritos sobre ciência e saúde, Drauzio Varella.

Nota:8/10 Nesse livro, Drauzio Varella reúne informações de diversos artigos de sua autoria publicados no jornal Folha de São Paulo e na revista Carta Capital, narrando a evolução biológica que proporcionou a excêntrica espécie humana se desenvolver e sobreviver no planeta terra, os problemas que atrapalham a plena saúde humana e, também, os avanços da pesquisa científica no meio clínico. Em um compilado mais expositivo do que analítico de pesquisas, sobretudo, clínicas, Drauzio aproxima a ciência e a medicina do leitor, o qual pode tanto ser um profissional da saúde ou um acadêmico da área quanto um leigo no assunto.Com respeito, Drauzio desmente e explica saberes sociais que se tornaram, desde a idade da sua bisavó, verdades absolutas.  É uma leitura incrível, mesmo que publicada em 2006 e lido em 2021. Os caminhos que o autor descreve com uma boa curadoria ainda são atuais como princípio de estudo, eu descrevo como uma boa iniciação médica.

Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis | Resenha

Inicio essa resenha questionando minha capacidade de fazê-la, mas não me obstruindo, previamente, a publicá-la. Isso porque, uma das virtudes da minha nova “edição humana”, como teoriza Machado de Assis com as memórias de seu personagem Brás Cubas, valoriza os processos e, por mais que não consiga ficar sem atualizações intermediárias, encontra-se em sua terceira edição. Antes de fazer essa leitura, estudei sobre o autor e sobre as perspectivas da crítica literária, haja vista que essa é uma obra marcada por uma estética a qual faço pouco domínio técnico, e que é muito representativa para o escritor reconhecido positivamente pela crítica internacional. Volto-me, para estudar as obras machadianas, a “Memórias póstumas de Brás Cubas”, primeira obra do que, academicamente, reconhece-se como segunda fase de escrita do autor. Dessa forma, debrucei-me sobre ensinamentos relativos à vida humana e à língua portuguesa, que diga-se de passagem é bem explorada na obra.  Tomada de tamanha autentic

O amanhã não está à venda, Ailton Krenak | Resenha

O ensaio apresenta as perspectivas críticas de um indígena sobre o atual cenário político e social em que vivemos. Ailton Krenak, também autor de “O lugar onde a terra descansa” e de “Ideias para adiar o fim do mundo”, escreveu e publicou esse texto durante a pandemia (covid-19), apresentando algumas de suas reflexões e análises. Nas linhas, o autor dispõe as perspectivas que colocou seu povo em isolamento do mundo, o qual não podia “parar”, até a assustadora chegada do corona vírus entre 2019 e 2020. Carregando a tese de que a pandemia que enfrentamos, na verdade, não passa de uma crise do sistema em que vivemos, ou melhor: “diante da iminência da Terra não suportar nossas demandas” vivemos um enorme problema paralelamente às outras espécies, as quais, contrário ao que sempre aconteceu, não são prejudicadas pelo mesmo mal, o texto se destaca por sua perspectiva social, assim como outros trabalhos do autor. Nas entrelinhas, o autor questiona o termo humanidade, que não unifica nem desc

O livro de almas, Igor Quadros | Resenha.

Nota 5/10 Antes de compartilhar minha opinião sobre o livro gostaria de lembrar que cada leitor tem uma experiência ao ler determinada obra e que, o que é muito bom para um pode ser ruim para outro. Mas afinal, o que seria da literatura se não fossem os leitores com opiniões diferentes sobre um mesmo texto? Ao ver a capa, o título e a sinopse do livro me encantei. Procurei saber sobre o autor nortenho, Igor Quadros, e recebi um exemplar do livro, que foi publicado pela editora Novo Século com o selo de Novos Talentos da Literatura Brasileira, para resenhar em meu antigo blog que foi desativado há alguns anos. Criei muitas expectativas sobre a leitura, as quais contribuíram para o tamanho da minha frustração. O início é empolgante e, apesar de trazer cortes de cena entre os capítulos, os quais têm frequência esquecida no resto da obra, a premissa da narrativa prende o leitor. Com o passar das páginas, os acontecimentos vão se tornando comuns, previsíveis. Nenhum fato sur

A revolta da sucata, Laura Bergallo | Resenha

Nota:8/10 A revolta da sucata é uma das obras que eu recebi há alguns anos dos próprios autores para resenhar no meu antigo blog, o qual acabai abandonando.  A escritora fluminense, Laura Bergallo, premiada em 3° lugar na categoria juvenil do Prêmio Jabuti de 2007 com a obra Alice no espelho, escreveu o esse livro que foi publicado na coleção Ecoar, pela editora Garamond. O texto inicia-se com uma frase do economista Tim Jackson sobre o consumo na contemporaneidade, frase que já   contextualiza o leitor no conceito da   obra:   “ Estamos sendo persuadidos a gastar o dinheiro que não temos, com coisas que não precisamos, para criar impressões que não duram, em pessoas com as quais não nos importamos.”   A estória contada se passa em abril de 2020 (por coincidência, período em que eu reli a obra) e tem o enredo voltado sobre a revolta de aparelhos e sistemas tecnológicos vítimas do desenfreado descarte provocado pelo consumismo contemporâneo.   Apesar de ser u

A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar | Resenha

Nota: 8/10   M oacyr Sclia r , autor de contos, romances e ensaios literários ( resenhas de outros livros do autor ) escreveu “A mulher que escreveu a bíblia” a partir da hipótese publicada no livro “The book  of  J”, do professor e crítico literário estadunidense Harold Bloom:   “Em Jerusalém, há quase três mil anos, alguém escreveu um trabalho que, desde então, tem formado a consciência espiritual de boa parte do nosso mundo [...].    Não era um escriba profissional, mas antes uma pessoa altamente sofisticado, culta e irônica, destacada figura da elite do rei Salomão[...]; uma mulher, que escreveu para seus contemporâneos como mulher.”   É uma ficção bem construída. Conta a história de um jovem, que por influência paterna graduou história e, que, por vocação e pelo destino, tornou-se terapeuta de vidas passadas. Diante disso, o exitoso profissional, o qual não era formado em psicologia, nem medicina, recebe de sua paciente um texto sobre uma de suas vidas pas

Max e os felinos, Moacyr Scliar | Resenha

                                                                   Nota: 9/10 G ostaria de iniciar deixando claro que não quero, nem posso, opinar sobre a tão polêmica questão que esse livro carrega porque não li “As aventuras de Pi”, porém, acredito em coincidências assim como em plágios, mesmo que cometido por autores dos países do “primeiro mundo”. Além disso, deixo claro meu apoio ao autor que expressa, no início do livro, sua indignação, apenas, com a falta de consideração pela ideia inspiração não mencionada em “As aventuras de Pi”. O livro é muito curto. Vou iniciar pontuando esse único defeito que acabou me provocando um desconforto diante de um enredo tão incrível e bem construído que poderia ser estendido de 100 para umas 200 páginas. O primeiro ponto que me fez gostar tanto da obra é a maneira como o autor representou, pela visão de Max, a formação de ideologias de caráter autoritário e antidemocrático no mundo no século passado. Muitas vezes, durante as aula

Diva, José de Alencar | Resenha

Nota: 6/10 C  om essa história curta e autêntica, José de Alencar consegue dar vida a mais um perfil de mulher do século XIX, como em “Senhora” e em “Lucíola”, deixando evidente, nessa obra, mediante o retrato dos costumes da sociedade urbana burguesa da época, o motivo do intitulado clássico. A história narrada possui um recorte temporal longo, que se inicia na infância/adolescência da personagem principal e segue até o seu “final feliz”, típico dos romances de folhetim. O que mais chama a atenção é que o livro apresenta, por meio das atitudes da personagem principal, Emília, valores diferentes e até mesmo condenáveis pela burguesia fluminense do século XIX, criando uma enorme representatividade para mulheres independentes, conscientes quanto às desigualdades sociais, e fortes. Apesar de não ter gostado do final, haja vista a contradição dos pensamentos que o autor faz o leitor construir a partir das atitudes da Diva, a obra é boa e provoca no leitor reflexões quanto à