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Max e os felinos, Moacyr Scliar | Resenha


                                                                Nota: 9/10
G ostaria de iniciar deixando claro que não quero, nem posso, opinar sobre a tão polêmica questão que esse livro carrega porque não li “As aventuras de Pi”, porém, acredito em coincidências assim como em plágios, mesmo que cometido por autores dos países do “primeiro mundo”. Além disso, deixo claro meu apoio ao autor que expressa, no início do livro, sua indignação, apenas, com a falta de consideração pela ideia inspiração não mencionada em “As aventuras de Pi”.

O livro é muito curto. Vou iniciar pontuando esse único defeito que acabou me provocando um desconforto diante de um enredo tão incrível e bem construído que poderia ser estendido de 100 para umas 200 páginas.

O primeiro ponto que me fez gostar tanto da obra é a maneira como o autor representou, pela visão de Max, a formação de ideologias de caráter autoritário e antidemocrático no mundo no século passado. Muitas vezes, durante as aulas de história, eu me perguntava como uma ideologia tão terrível, como o nazismo, poderia ter influenciado tantas pessoas e ganhado tanto espaço no mundo, gerando guerras, propagando sofrimento e disseminando ódio. Desde meu primeiro contato com esse assunto na aula de história em 2014, a pergunta: ‘como tantas pessoas concordaram com algo tão bárbaro e sem fundamento como o nazismo? ’ me assombrava, porém, alguns anos depois, com o amadurecimento do ensino médio e essa leitura da última semana,  minha mente encontrou um possível caminho à compreensão.

Para um jovem do século XXI, que nasceu  na virada de séculos e durante uma revolução da comunicação, não fazia sentido as pessoas não saberem a verdade por trás de um governo que deixava claro seu posicionamento ideológico. Quanto a isso, eu falhei, ingenuamente, por não compreender a influência do sistema capitalista sobre as atitudes hipócritas e culturalmente lastimáveis da humanidade. Em ‘Max e os felinos’, Moacyr ilustra com palavras os pensamentos e os sentimentos de um jovem, o qual tem que abdicar de sua vida no início da fase por uma perseguição mesquinha e intolerante do marido nazista de sua amante Frida.

Tudo foi narrado rapidamente. O crescimento do personagem principal, mediante o autoritarismo de repressão imposto pelo pai, influenciando negativamente na construção de medos durante a juventude do garoto que, logo teve que largar seu país dominado pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – Nazismo -  e que encontrar após possíveis lapsos de sobriedade e intensas dificuldades no percurso Berlim-Brasil, uma oportunidade de reconstrução de vida. Não vou negar que é uma história triste, não muito triste, mas triste. Enquanto estava lendo, eu me colocava no lugar de Max, pensando o quanto foi e seria difícil, atualmente, seguir escolhas semelhantes às seguidas por ele. Não ter liberdade para decidir seu futuro aos 19 anos é cruel. Ainda mais triste é o relacionamento interrompido dele com os pais.

Pensar em tudo que aconteceu com Max durante sua vida e enxergar que, hoje, a história vem se repetindo no mundo todo, inclusive no Brasil, é a parte mais perigosa e, para mim, muito, muito dolorosa. Aos poucos o mundo vem sendo dominado por ideologias muito semelhantes ou até iguais àquelas que causaram perdas inestimáveis na metade do século passado. Será que a história vai se repetir? Muitos não escondem tamanha admiração.

Indico a leitura a todas as pessoas. Essa é a primeira do ano de 2020 e eu me sinto grato por poder compartilhar minha opinião e incentivar outras pessoas a ler obras tão boas como essa. Vamos valorizar a literatura nacional, ‘Max e os felinos’ é bom, muito bom!

            

Comentários

  1. Bom, eu também pensava assim. Quando eu li Anne Frank, eu chorei uma noite inteira. O mesmo quando assisti A Vida é Bela, O Menino de Pijama Listrado, e outros diversos filmes que abordam o assunto. Na escola, meu professor chorava. Eu pensava em como as pessoas podiam ser tão cruéis e intolerantes umas com as outras. Tive essas aulas lá por 2012. E hoje, com a atual situação do mundo, vejo um fascismo ascendendo aqui no Brasil. Não por mimimi, mas é verdade. A linha de pensamento atual do povo brasileiro, tem uma ideologia neo-fascista e intolerante, com a desculpa de revolução. É muito triste ver como nosso povo ficou tão ignorante em questão de todos os assuntos. Ficaram tão cegos por um comandante, que acham que uma pandemia mundial é mentira. O livro parece ser bem interessante, e como eu não li As Aventuras de Pi, não vai ter como eu comparar quando eu ler a sua indicação.

    Fique com Deus.

    http://heythay.blogspot.com/

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    1. Oie. Também já assisti A vida é bela, Olga e O menino do pijama listrado. Infelizmente a intolerância humana vem revestida por essa mascara de progresso, evolução e avanço político, sobretudo na imagem de um super-herói nacional. Infelizmente as pessoas realmente ficam cegas, isso, atualmente, concomitante às bolhas virtuais, que imergem os indivíduos em espaços cheios de conteúdos de perspectiva semelhante, evitando o contato com opiniões divergentes (o que seria extremamente necessário para a construção de um sistema, seja ele qual for). Assim, a internet que seria aliada do diálogo e da disponibilização de várias perspectivas para construção, acaba sendo um espaço de alienação.

      Recomendo super a leitura, inclusive se quiser adquiri-lo pelo link da Amazon aqui no site, você ajuda o blog( sem gastar nada a mais). Obs: o livro é barato assim mesmo.

      Obrigado pela visita, abraços!

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  2. Olá
    Quando li As aventuras de Pi, depois que fui descobrir sobre a polêmica, mas acabei nem indo atrás do outro livro, o que teria "inspirado" Pi. Gostei muito da sua opinião sobre ele e agora surgiu a vontade de ler, não pra comparar (embora será inevitável), mas para conhecer outra história tão boa quanto.

    Vidas em Preto e Branco

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    1. Oie, que ótimo, incentivar e fomentar a leitura é o grande objetivo da página! Obrigado!! :)
      Abraços!

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  3. Gostei muito das suas reflexões sobre o tema.
    Um abraço!

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  4. Esta ainda é minha resenha predileta, venho aqui uma vez por mês vê-la rsrsrs. Essa foto perfeita e eu li o livro por causa dela também rsrsrs. Beijokas!

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