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Mostrando postagens com o rótulo clássico

Querida Kitty, Anne Frank | Resenha

  Querida Kitty, Anne Frank |  nota: 9/10  “Abandonei você por um mês inteiro, mas a verdade é que não é todo dia que tenho algo divertido para contar”. É com essa intimidade que a caçula Frank compartilha confidências ao seu intitulado diário Kitty, narrando, às vezes, com bom humor e, às vezes, com medo, alguns acontecimentos de sua conturbada vida entre os anos 1942-44.  Em “Querida Kitty: um romance epistolar” fica claro o talento de Anne Frank para escrever, mesmo ainda sendo considerada ignorante por seus familiares e aqueles que dividiam o mesmo espaço durante a Segunda Grande Guerra Mundial. A obra não acabada e publicada pela primeira vez em português pela Sahar é autêntica por ser tão pessoal ao ponto de nos fazer sentir, como leitores, amigos íntimos da jovem judia cheia de curiosidades, com uma visão pitoresca e, ao mesmo tempo, madura do mundo. A descrição genial com direito a neologismos feitos por Anne é permeada por sua sensibilidade de expressar, por meio das palavras,

Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis | Resenha

Inicio essa resenha questionando minha capacidade de fazê-la, mas não me obstruindo, previamente, a publicá-la. Isso porque, uma das virtudes da minha nova “edição humana”, como teoriza Machado de Assis com as memórias de seu personagem Brás Cubas, valoriza os processos e, por mais que não consiga ficar sem atualizações intermediárias, encontra-se em sua terceira edição. Antes de fazer essa leitura, estudei sobre o autor e sobre as perspectivas da crítica literária, haja vista que essa é uma obra marcada por uma estética a qual faço pouco domínio técnico, e que é muito representativa para o escritor reconhecido positivamente pela crítica internacional. Volto-me, para estudar as obras machadianas, a “Memórias póstumas de Brás Cubas”, primeira obra do que, academicamente, reconhece-se como segunda fase de escrita do autor. Dessa forma, debrucei-me sobre ensinamentos relativos à vida humana e à língua portuguesa, que diga-se de passagem é bem explorada na obra.  Tomada de tamanha autentic

A peste, Albert Camus - Resenha

Nota 7.5/10 A peste de Albert Camus, mencionada como profética pelo escritor Ailton Krenak em seu ensaio sobre a pandemia “O futuro não está à venda”, 2020, é uma obra necessária para a construção do senso crítico na sociedade contemporânea, a qual, equivocadamente permite atividades como a economia tornem-se discutíveis a maior importância comparada à vida da espécie humana.    “O mal que existe no mundo provém quase sempre da ignorância e a boa vontade, se não for esclarecedora, pode causar tantos danos quanto a maldade...sendo o vício mais desesperado o da ignorância que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”. Durante a leitura, pensei diversas vezes sobre o conceito e a prática da justiça. Qual seria o ideal? Privar muitos para que a felicidade seja de todos, ou permitir a felicidade individual com liberdade para que cada um faça o que achar necessário? Isso, obviamente, fora do contexto constitucional contemporaneamente instituído e aplicado, assim como aos conceitos rela

Frankenstein ou o Prometeu moderno, Mary Shelley | Resenha

Nota: 10/10 F rankenstein  é resultado de um conjunto composto pela intelectual e sentimentalmente defasada educação paterna oferecida à Mary Shelley, devaneios noturnos, conversas sobre a criação da vida e uma crítica impositora à Percy Shelley, marido da autora. Diante desses fatores, surge, durante um verão recluso pelas péssimas condições climáticas na Suíça, a obra que revolucionou a literatura mundial e que coleciona admiradores 200 anos após sua primeira publicação. O exemplar da coleção de Clássicos da Penguin Companhia, 417 páginas, inicia-se com um texto que apresenta um estudo detalhado feito pelo inglês Maurice Hindle, Ph.D. em literatura pela University of Essex, com uma biografia sobre a autora, apresentando as perspectivas que fizeram Mary escrever a obra, a influência e as interferências do marido da autora e as partes que sofreram alterações durante as republicações. Nesse estudo, o leitor também é apresentado aos pensamentos de filósofos, de cientis

Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto | Resenha

Nota: 9/10 Como já é possível ler pelo título, Quaresma não tem um fim feliz, e, certamente, essa obra não narra a felicidade de um brasileiro. É perante o recorte espaço-temporal da cidade do Rio de Janeiro do fim do século XIX, durante a República da Espada (1889-1894), ao abrigo do crescimento do capitalismo e da perpetuação da oligarquia rural, que o texto narra os infortúnios da vida de Major Quaresma, um metódico funcionário público, intelectual e patriota exacerbado. Importante no movimento pré-modernista – sendo considerado “pré ” por ainda não ter os ideais bem definidos e agressivos como os após 1922, com o movimento em si -, o qual utilizou, nas artes em geral, o regionalismo e o nacionalismo, o livro apresenta os pensamentos e as ideologias que se instauravam nos pensamentos sociais da mudança de séculos (XIX-XX) no Brasil. “ Triste fim de Policarpo Quaresma ” destaca marcas, as quais, atualmente, encontram-se difusas e, muitas vezes, representantes da al

Diva, José de Alencar | Resenha

Nota: 6/10 C  om essa história curta e autêntica, José de Alencar consegue dar vida a mais um perfil de mulher do século XIX, como em “Senhora” e em “Lucíola”, deixando evidente, nessa obra, mediante o retrato dos costumes da sociedade urbana burguesa da época, o motivo do intitulado clássico. A história narrada possui um recorte temporal longo, que se inicia na infância/adolescência da personagem principal e segue até o seu “final feliz”, típico dos romances de folhetim. O que mais chama a atenção é que o livro apresenta, por meio das atitudes da personagem principal, Emília, valores diferentes e até mesmo condenáveis pela burguesia fluminense do século XIX, criando uma enorme representatividade para mulheres independentes, conscientes quanto às desigualdades sociais, e fortes. Apesar de não ter gostado do final, haja vista a contradição dos pensamentos que o autor faz o leitor construir a partir das atitudes da Diva, a obra é boa e provoca no leitor reflexões quanto à