Essa é a primeira leitura que faço de um texto do Valter Hugo Mãe, famoso autor português nascido em moçambique - risos -. Ouço muito sobre ele, mas não tinha lido nenhuma de suas obras até encontrar em uma visita seguida de uma curiosa investigação na estante de livros da minha tia, esse exemplar da foto acima - edição da Cosacnaify, estampada com a obra “Aldeia”, de Marina Rheingantz -. Pedi que ela me emprestasse e ela exclamou que era um livro bom. Logo após a virada do ano debrucei-me nessa leitura .
A obra é marcada pelo que eu acredito ser o estilo de Valter Hugo Mãe, a sensibilidade para depositar, por meio da escolha de palavras, um profundo sentimento humano. Tudo é dito de forma pouco convencional, o que causa reflexão do início ao fim do texto. O autor cata palavras e as agrupa para transmitir sentimentos profundos, gerando reflexão a cada frase.
“O filho de mil homens” é um retrato do que eu chamaria de problemas criados pela espécie humana após o desenvolvimento da sociedade, os quais são vividos por personagens com seus papéis sociais inflexíveis que lhes prendem em angústia e sofrimento. Assim, eles seguem suas vidas a mercê do que a sociedade de “sabe-se lá quando” decidiu e agora é também implementado hierarquicamente na aldeia.
A leitura é uma experiência pessoal que sofre muitas variações com as particularidades do leitor. Emerjo desse mergulho literário contente e com o pensamento de que “a leitura é um fim em si mesma”. Talvez eu o devesse ter lido antes, porém, percebo que ter sido a minha primeira leitura de 2021 marcou o início de um novo ciclo, ainda mais nesse também início de década. A minha primeira leitura da década de 20 foi Valter Hugo Mãe. O título não óbvio é o que mais me impressionou, já que vivemos no mundo do imediatismo e da efemeridade. Chegar em um dos últimos capítulos para descobrir algo tão incrível foi extremamente gratificante.
Se uma outra espécie me perguntasse o que é o ser humano e quisesse saber mais sobre o que intitulamos “nicho ecológico” eu, provavelmente, recomendaria essa obra junto com alguns textos mais argilosos de Machado de Assis. E acho que uma definição seria uma história dos “ninguém” que desabituados a serem alguém, o fizeram coletivamente, preenchendo espaços vazios com amor e cuidado com o próximo.
Espero encontrar outros exemplares do autor na casa da minha tia. Recomendo que leiam, me trouxe conforto e prazer em meio a tanta turbulência provocada pela desenfreada procura de uma vacina e a constante polarização político-ideológica vivenciada por nós, brasileiros.
Um texto muito bom!!
ResponderExcluirBoa noite! Beijo